domingo, 19 de fevereiro de 2012

O olhar das rimas

Levantei o meu olhar
Tropecei na solidão
Levitei mais devagar
E deixei-me a meditar
Na fadiga e sem razão
Voltei a olhar para o chão
E fiquei lá a procurar
O que não me queriam dar
Uma migalha de pão
Para poder mastigar
E assim lapidei a gratidão
Sublime a divagar
E não olhei mais para o ar
E parei a inquietação
Nos primórdios da ilusão
Que não me deixou sossegar
Nem ilustrar o coração
Levantei-me e sem parar
Dei largas à imaginação
E continuei a rimar
Arquivei esta solução
Ansiei o dia a madrugar
Gritei de tanta rebelião
E não perdi a ocasião
Para poder mendigar
A vontade da emoção
E ajoelhei-me a pedir perdão
E rasguei a saudade de amar
Para me deixar mais sensação
Lamentei tudo sem pensar
Fiquei presa à permissão
E agarrei a magia ao acabar
Para ficar com mais inspiração.

No palco da vida, muda

Subi ao palco e de voz afinada
Eu gritei em alto som
Como num ensaio para a vida
No meu teatro de fantasia
E no meu triste vazio sem nada
Representei, mas não tinha dom
Vi-me sem público perdida
Transformei em noite este dia
Desci do palco, despi a arte, a valentia
Supri o gosto num gesto meu
Amaldiçoei a peca, o tema e sem rigor
Eu lamentei-me abandonada
E na nostalgia do amor perdido
Bulia a tempestade e o desespero atroz
E enquanto ele bulia
Corriam as estrelas do meu céu
E eu, à procura do amor
Que me deixou mais enganada
E fora do meu sentido
Quando calou de vez, a minha voz.